Não, Jesus jamais se encheu de raiva!

Nesta época de mudanças, onde todos somos acometidos de certa efervescência, deixamos vir à tona todos os sentimentos aviltantes que jazem em nosso interior. No afã de tentar justificar as expressões de revolta, temos visto alguns religiosos tomando, como referência, o comportamento do Cristo no episódio da Purificação do Tempo de Jerusalém, alegando que, "se até Jesus se irritou e enxotou a chicotadas os cambistas do Templo, nenhum problema há em também nós nos tomarmos de ira e revolta diante do atual cenário de desordem".

O problema é que a nossa ignorância e o nosso orgulho fazem com que projetemos as nossas emoções nestas passagens paradoxais do Cristo, para tentar justificar os nossos comportamentos primitivistas.

Lamento frustrar os corações ingênuos, mas não, Jesus NÃO desenvolveu nenhum sentimento de ira, nem agiu agressivamente contra nenhuma pessoa no referido acontecimento. Isso é interpretação de quem lê, pois isso não está no texto bíblico. Episódios como este, protagonizados por todos os profetas do Velho e do Novo Testamento, são chamados de "Ações Simbólicas", muito comum naquela época, onde eles se utilizavam da linguagem mímica para transmitir uma profecia ou uma lição espiritual.

No caso em tela, Jesus apenas fazia jus a uma profecia do Velho Testamento através da encenação de um processo de purificação de nosso templo INTERIOR. Nestas corriqueiras encenações proféticas, o povo observava atentamente e tentava extrair delas a mensagem espiritual. Normalmente, os Doutores da Lei interpretavam-nas e as traduziam para o povo em geral.

Para melhor compreensão desta passagem, precisamos nos valer de uma importante informação histórica: O Templo de Jerusalém, onde trabalhavam mais de vinte mil pessoas, era protegido por cerca de mil guardas (do próprio Templo e da Torre Helena, uma fortaleza militar romana construída ao lado do Templo). Portanto, se Jesus tentasse, de fato, tumultuar ou agredir alguém, acredite, em menos de cinco segundos Ele estaria preso.

Cometemos erros semelhantes de interpretação noutras passagens do Evangelho, como na aparente frustração e indignação de Jesus diante da figueira que Ele amaldiçoou por não ter encontrado frutos, ou na Sua aparente falta de fé nos tormentos do Calvário ao perguntar a Deus por que Ele o abandonou etc.

A maioria de nós se aproxima dos textos sagrados como aquele que "descasca a banana, come a casca e joga a banana fora", demonstrando extrema dificuldade de ler a "escritura divina" em letras humanas. Lamentavelmente, ainda possuímos o velho hábito, tão condenado por Paulo, de nos apegar ao formalismo da letra. Por isso, há dois mil anos, o Cristo nos clama:

"Tenha olhos de ver e ouvidos de ouvir".

(Cristiano Abreu Paiva)

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